Crise financeira ou sócio-metabólica?
"Permita-me emitir e controlar o dinheiro de uma nação,
e não me importo com quem faz suas leis".
Mayer Amschel Rothschild,
banqueiro internacional
Existem milhões de sites, vídeos, textos, artigos, livros, filmes, etc, etc... que fornecem explicações sobre a crise financeira que todos testemunhamos, vivenciamos e somos vítimas. No entanto a grande maioria delas aborda somente seus efeitos e consequências, numa miríade de termos técnicos que nem mesmo economistas entendem. Falam de "controle da inflação" como se a mesma fosse um ente superior poderoso e intangível, e 'culpam' determinados setores da economia, ou crises em países alhures, pelas elevações e (raras) quedas nos preços. Nada poderia ser mais falacioso e maquiado.
Neste texto (que será dividido em vários posts), tentarei abordar o tema da denominada crise financeira. Um tema espinhoso, denso, controverso e polêmico. Mas que deve ser enfrentado, visto e re-visto, pois absorve todas as esferas de nossas vidas, quer queiramos ou não. Não me considero suficientemente capaz e competente para abordar de forma ampla e profunda este tema, mas temo que acumulei informações, dados e opiniões que são pertinentes e até mesmo reveladores. Buscarei portanto, neste espaço, organiza-las de forma coerente e concisa, "traduzindo" -- na medida da minha capacidade -- o "economês" para uma linguagem acessível aos leitores interessados.
Utilizarei de diversas fontes e referências, as quais, por comodidade, tomarei a liberdade de reunir somente no final, num post específico de referências. No entanto eu gostaria de chamar a atenção do leitor para uma referência em partucular (de onde algumas ilustrações deste texto são retiradas) - trata-se da do Cartoon animado Money as Debt produzido pelo artista e ativista Paul Grignon, que explica de forma didática e reveladora o funcionamento do sistema monetário atual([1]).
Neste post vamos tentar entender quanto dinheiro existe no mundo....
Quanto dinheiro existe?
Pois bem, quanto dinheiro existe hoje em dia no mundo? Taí uma pergunta bem difícil de responder, e eu diria mesmo que trata-se de algo impossível de responder.
Se tomarmos algum instante no passado, a cifra certamente deve atingir a casa das dezenas de trilhões de dólares! E, ademais, este valor não é constante... Ele aumenta o tempo todo, e somente faz aumentar, pois como visto no post anterior, ele tem origem nas dívidas, e assim, quanto mais dívida as pessoas, instituições e governos contraem, mais dinheiro tem no mundo.
De qualquer forma, visto que sou um curioso inveterado, além de cético e teimoso, saí em busca de uma resposta mais convincente e concreta para esta pergunta, uma que pudesse preencher minimamente esta lacuna de dúvida (e não de dívida...) que se formou e que me incomodava por dentro.
[dinheiro pelo mundo]
A primeira coisa que aprendi é que existem diversos "tipos" de dinheiro. E a coisa é bem chata e complicada de entender (talvez intencionalmente). Mas é possível simplificar e colocar tudo em termos bem acessíveis. É o que vou tentar fazer aqui.
O dinheiro é classificado de acordo com sua abrangência e liquidez (a facilidade de se realizar tranzações com o dinheiro), em categorias "M", que vão de M0 (a menos abrangente) até o M3 (o mais abrangente)([2]),
M0 Dinheiro em Circulação: Representa as notas e moedas em circulação. Isto inclui as notas e moedas nos bolsos e carteiras (além daquelas debaixo dos colchões) das pessoas, é o dinheiro na mão, nos cofres dos bancos, e em todos os depósitos que os bancos têm em reserva.
O restante do dinheiro é mantido em contas bancarias de vários tipos, e os bancos centrais classificam estes fundos nas três diferentes classificações conhecidas, M1, M2 e M3:
M1 Incluí Dinheiro em Conta: Representa toda a oferta de dinheiro M0, além de todo o dinheiro mantido em contas correntes e outras contas, bem como todo o dinheiro em cheques de viagem.
M2 Incluí M1, além de todo o dinheiro mantido em fundos do mercado monetário, contas de poupança e CDs de pequeno porte.
M3 é o M2 mais todos os CDs de grandes dimensões([3]).
O dinheiro em circulação [M0] é o de maior liquidez, pois consiste das notas e moedas na mão das pessoas os quais podem ser fácil e rapidamente utilizados em transações. Já o dinheiro M3 incluí fundos de investimento de longo prazo, e portanto, são de baixa liquidez, visto que não estão disponíveis para uso de forma imediata.
Existem poucas fontes na net que forneçam dados a respeito do dinheiro em circulação na economia mundial, exceto alguns sites específicos de economia, que são (muito bem) pagos.
No entanto, um em particular disponibilizou alguns dados, em forma de gráfico, além de comentários, os quais traduzo e reproduzo abaixo ([4]).
Em termos de liquidez, pode-se 'ranquear' as classificações de dinheiro de acordo com o infográfico abaixo:
[Liquidez do Dinheiro de acordo com a Classificação]
Vamos começar com o que a maioria das pessoas normalmente acredita quando se pensa em dinheiro: notas e moedas em circulação pública, ou o dinheiro M0. Abaixo, um gráfico mostrando a expansão monetária de M0, desde 1971 até o presente.
[Notas e Moedas em Circulação na Economia Mundial: Dinheiro M0]
O gráfico mostra as contribuições somadas de quatro moedas, o dólar americano, o yene japones, o euro europeu, o yuan chines, além da contribuição somada de outras 131 moedas – todas convertidas em dólares americanos.
A primeira moeda mostrada é o dólar dos Estadosunidos (verde). Até o final de 2010 havia 920 bilhões de dólares circulando. Estima-se que, talvez, até dois terços deste total circula fora das fronteiras do país.
A próxima moeda é ao iene japonês (marrom). Mais de 86 trilhões de yenes circulam entre o público. Isso representa um montante equivalente a mais de 1 trilhão de dólares americanos.
O euro é representado em azul. Há menos de 840 bilhões de euros em circulação - o equivalente a 1,1 trilhão de dólares. Essas três moedas representam quase 60 por cento do valor de todos os papel-moeda físicos dentro do domínio público.
O quarto papel-moeda mais significativo é o yuan chinês.
As 131 moedas restantes mostradas neste gráfico estão representados em cinza.
Juntas, essas 135 moedas somam a quantidade de 5.2 trilhões de dólares. No final de Agosto de 1971 a quantidade total de moeda era equivalente a 171 bilhões dólares. Isto significa, que ao longo dos últimos 40 anos, a valorização nominal de todo o dinheiro de papel aumentou em mais de trinta vezes.
Mas, como visto, existem também outros tipos de dinheiro, ou seja, os depósitos à vista, as contas de poupança, os investimentos, etc.
O gráfico seguinte mostra as contribuições somadas totais de cada tipo de dinheiro, iniciando com M0 (azul), e depois acrescentandto M1 (vermelho) e finalmente as contribuições de M2 (verde) e M3 (roxo).
[Dinheiro em Circulação na Economia Mundial: M0, M1 e M2]
Como se pode ver, a quantidade de dinheiro mantido em depósitos (M1) excede a de moeda em circulação (M0) por cerca de quatro vezes.
Para esta quantidade de dinheiro - o equivalente a 25 trillhões de dólares - vamos agora adicionar contas de poupança e depósitos a prazo de pequeno porte. Este é o M2. A quantidade de dinheiro M2 é ainda maior do que em M1.
Por fim, adiciona-se o dinheiro capturado sob M3. Isso leva nossa estimativa para a quantidade total de dinheiro para mais de 75 trillões de dólares americanos.
A figura abaixo mostra a quantidade de dinheiro M3 na economia dos Estadosunidos, o qual atingiu em 2011 a cifra de 14.2 trilhões de dólares. Portanto, somente a economia dos Estadosunidos respondem por quase 20% do dinhiero M3 disponível no mundo!
Bem, o que exatamente estes números astronômicos representam? Primeiramente e antes de tudo, representam dívida, e no final representam também uma "exuberância irracional"([5]).
Continuaremos a análise nos próximos posts....
[1] [http://paulgrignon.netfirms.com/MoneyasDebt/index.htm] As ilustrações presentes no texto que forem provenientes dos cartoons de Paul Grignon conterão em sua legenda o seguinte acrônimo: (PG, MaD) de Paul Grignon, Money as Debt.
[2] Referências: [http://money.howstuffworks.com/how-much-money-is-in-the-world.htm], [http://en.wikipedia.org/wiki/Money_supply#cite_note-dollardaze.org-7], [http://news.goldseek.com/GoldSeek/1231778551.php]
[3] Desde março de 2006, o Federal Reserve dos Estadosunidos já não divulga mais o estoque de moeda M3 como indicador econômico.
[5] Termo usado em 1996 pelo então CEO do FED, o banco central dos Esatdosunidos, Alan Greenspan, ao definir o comportamento dos investidores do mercado de ações. Em 2000, o economista da Universidade de Princenton, Robert J. Shiller usou o termo como título de seu livro, o qual consiste de um amplo estudo com base em uma gama de pesquisas publicadas e evidências históricas do recente enorme boom do mercado de ações.
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