<<Por várias
razões, o voto distrital está longe de ser uma solução. Nele, é possível que
quase a metade de uma região, estado ou do País fique sem representação. E é
certo que, para as minorias étnicas, religiosas, culturais, de gênero ou
opinião, entre outras, seria quase impossível eleger deputados.>>
[Marcos Coimbra – sociólogo
e presidente
do Instituto Vox Populi, para o site da revista Carta Capital]
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Existe atualmente em curso no país uma campanha amparada
por banqueiros, grandes empresas, políticos e meios de comunicação a favor da
adoção do sistema de voto distrital. Alegam que tal sistema eleitoral (de
maioria simples) deveria ser adotado Brasil. No entanto, apesar de –- à primeira
vista -- tal sistema aparente ser melhor, pois é mais simples e direto (os
eleitores votariam diretamente no nome dos candidatos, e os mais votados seriam
os eleitos em cada distrito), seu funcioamento esconde vários defeitos e sérios
problemas, os quais tentarei mostrar abaixo, a partir de algumas publicações e
textos que exclarecem melhor a questão.
[fonte
imagem:
http://www.aldeiagaulesa.net/2011/09/os-equivocos-do-voto-distrital.html]
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[a aprtir do verbete “voto distrital” da wikipedia]:
O voto distrital é, na mídia e nos meios políticos
brasileiros, sinônimo de sistema eleitoral de maioria simples. Esse é um sistema
em que cada membro do parlamento é eleito individualmente nos limites
geográficos de um distrito pela maioria dos votos. Para tanto, o país é
dividido em determinado número de distritos eleitorais, normalmente com
população semelhante entre si, cada qual elegendo um dos políticos que comporão
o parlamento.
[Aqui já se verifica um grande problema. Como efetivar tal
divisão distrital num país tão heterogêneo e imenso como o Brasil? Note que o
distrito não é um município, nem um estado federativo, mas sim um agrupamento
independente, que seria feito somente para mérito eleitoral. O texto "Os equívocos do voto distrital" do sociólogo Marco Coimbra para o site da revista Carta Capital elabora melhor esta problemática -- ver abaixo]
Há uma crescente pressão por mudança nos países que adotam
o sistema de voto distrital, como a Inglaterra. Nos Estados Unidos, onde o
movimento fair vote defende a representação proporcional, vários estados
promoveram reformas nos sistemas eleitorais, mas há preferência pelo sistema
majoritário em escala federal. No Brasil democrático, o sistema distrital não
teve defensores significativos até 1993. O projeto que defendia a adoção do
sistema foi derrotado ainda na fase das subcomissões na constituinte de 1988.
O voto distrital pode ser realizado por diversos sistemas
de votação; os mais comuns são por maioria simples (caso dos EUA e Reino Unido)
e por maioria absoluta (caso da França), no qual a votação pode ser feita em
dois turnos.
Os
especialistas consideram o sistema eleitoral de maioria simples (de um ou dois
turnos) problemático por diversas razões. Em primeiro lugar, o sistema distorce
as escolhas partidárias de seus eleitores e promove o desperdício de votos. Em
segundo lugar, ele reduz severamente a quantidade de opções partidárias dos
eleitores. Por fim, o sistema não é capaz de promover a igualdade geográfica
que propõe.
Como
exemplo, veja o diagrama abaixo das eleições da Inglaterra. Pode-se verificar
que o sistema de voto distrital é altamente desproporcional.
O diagrama mostra a discrepância entre a proporção total de votos obtidos pelos partidos britânicos (parte interna) e o número de assentos que eles assumiram no parlamento (parte externa) nas eleições gerais de 2005.
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Os equívocos do
voto distrital
Texto publicado por
Marco Coimbra, no site da revista Carta Capital, em 17/set/2011
[http://www.cartacapital.com.br/politica/os-equivocos-do-voto-distrital/]
Vamos imaginar que, por qualquer razão, a campanha que a
direita brasileira move por meio de seus jornais e revistas em favor do voto
distrital dê certo. E que, com a mesma irresponsabilidade com que tem sido
propagandeado, o Congresso resolva aprová-lo.
As pessoas que foram convencidas pelos argumentos de
políticos, jornalistas e intelectuais conservadores se sentiriam bem. Para
elas, com o fim do voto proporcional, teríamos dado um grande passo para
consertar as deficiências de nossa democracia.
Estariam enganadas.
Acreditaram que ele não tinha contraindicações e que era
simples implantá-lo. Mas a verdade é que o voto distrital traz vários problemas
e é difícil adaptá-lo à nossa cultura.
A primeira pergunta é quantitativa: quantos distritos
haveria no Brasil? Alguns dizem que seriam 513, o número de deputados federais
existentes. Mas, nas eleições para as Assembleias, qual seria o número? Os
deputados estaduais são 1.059 (incluídos os distritais). Haveria municípios
agrupados na eleição para a Câmara, mas separados na estadual?
Teríamos, também, de concordar com o tamanho dos
distritos. No ano passado, éramos 135,8 milhões de eleitores. Se fossem 513 distritos,
a média seria de perto de 265 mil eleitores em cada um.
Nos países com voto distrital, a praxe é fazer essa conta,
aplicando o princípio de “cada cabeça, um voto”. Quando são federativos (como
os Estados Unidos), procura-se, no entanto, corrigir a eventual falta de
representação dos estados pequenos, assegurando que tenham ao menos um
distrito.
Aplicando o princípio e supondo que ficaríamos com 513
distritos (pois seria pouco provável que a sociedade apoiasse o aumento do
número de deputados), todos os estados teriam sua representação diminuída, à
exceção de São Paulo (onde ela quase dobraria).
Há que pensar no que são distritos com 265 mil eleitores.
Como imaginar que neles haveria a propalada proximidade entre representantes e
representados? Alguém pensa, a sério, que deputados eleitos com base em
territórios tão complexos e heterogêneos estariam “perto” dos eleitores? Que
aumentaria a possibilidade de serem cobrados?
E onde começariam e terminariam os distritos
recém-criados? O bairro tal ficaria junto de quais outros? A cidade A seria do
distrito X ou Y? As microrregiões hoje reconhecidas administrativamente seriam
mantidas?
Essas
perguntas estão na base do que os norte-americanos chamam de apportionment:
a necessidade de calcular e, periodicamente, recalcular o número de distritos
dos estados e a combinação de localidades dentro deles, de forma a que reflitam
as mudanças demográficas.
É
um processo cheio de complicações e possibilidades de manipulação. A ponto de
terem inventado uma palavra para designar a procura de vantagens individuais ou
partidárias ao fazê-lo. O nome é gerrymandering e ocorre com frequência
por lá.
Se,
então, o Congresso aprovasse o voto distrital no Brasil, o que teríamos de
imediato seriam novos problemas. Em vez de consertar nossos males, criaríamos
outros.
Tudo
valeria a pena se houvesse certeza da superioridade do voto distrital em
relação ao proporcional. Nos aborreceríamos até chegar a ele, mas o resultado
compensaria.
Não
é, no entanto, o caso.
Por
várias razões, o voto distrital está longe de ser uma solução. Nele, é possível
que quase a metade de uma região, estado ou do País fique sem representação. E
é certo que, para as minorias étnicas, religiosas, culturais, de gênero ou
opinião, entre outras, seria quase impossível eleger deputados.
A
disputa de votos baseados na territorialidade faz com que o conteúdo político
das candidaturas fique em plano secundário. O que predomina é a discussão dos
“problemas concretos” e de quem tem “mais capacidade” de resolvê-los. O típico
eleito é (e se orgulha disso) um “despachante de luxo”, um parlamentar
paroquial que vai para Brasília com a ideia de que só deve explicações à sua
região. Isso já existe hoje, e se generalizaria e se intensificaria.
No voto distrital, os candidatos não precisam de seu
partido para se eleger. Só sua votação conta. Sentem-se, portanto, donos
exclusivos de “seus” votos. Estar filiado a determinado partido chega a ser
irrelevante.
Complicado,
sujeito a manipulações, o voto distrital é ruim na representação de minorias,
leva à falta de ideologia na política e enfraquece os partidos.
Talvez
sejam seus problemas que atraiam a direita. Ou, então, ela só quer mesmo é
posar de quem tem a solução para o Brasil (mesmo que saiba que é conversa
fiada).
"Complicado, sujeito a manipulações, o voto distrital é ruim na representação de minorias, leva à falta de ideologia na política e enfraquece os partidos"
ResponderExcluirEngraçado como ao tentar apresentar defeitos o sr. enumera três grandes qualidades do voto distrital.
Não vejo tanta graça nisso... de fato, são três grandes qualidades, quado se adota a abordagem xenofóbica.
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