Crise financeira ou sociometabólica?
"Uma coisa a perceber sobre o nosso sistema bancário de reservas fracionárias
é que, como no jogo das cadeiras, enquanto a música estiver tocando,
não há perdedores [para quem estiver no jogo]"
Andrew Gause, Historiador Monetário
Existem milhões de sites, vídeos, textos, artigos, livros, filmes, etc, etc... que fornecem explicações sobre a crise financeira que todos testemunhamos, vivenciamos e somos vítimas. No entanto a grande maioria delas aborda somente seus efeitos e consequências, numa miríade de termos técnicos que nem mesmo economistas entendem. Falam de "controle da inflação" como se a mesma fosse um ente superior poderoso e intangível, e 'culpam' determinados setores da economia, ou crises em países alhures, pelas elevações e (raras) quedas nos preços. Nada poderia ser mais falacioso e maquiado.
Neste texto (que será dividido em vários posts), tentarei abordar o tema da denominada crise financeira. Um tema espinhoso, denso, controverso e polêmico. Mas que deve ser enfrentado, visto e re-visto, pois absorve todas as esferas de nossas vidas, quer queiramos ou não. Não me considero suficientemente capaz e competente para abordar de forma ampla e profunda este tema, mas temo que acumulei informações, dados e opiniões que são pertinentes e até mesmo reveladores. Buscarei portanto, neste espaço, organiza-las de forma coerente e concisa, "traduzindo" -- na medida da minha capacidade -- o "economês" para uma linguagem acessível aos leitores interessados.
Utilizarei de diversas fontes e referências, as quais, por comodidade, tomarei a liberdade de reunir somente no final, num post específico de referências. No entanto eu gostaria de chamar a atenção do leitor para uma referência em partucular (de onde algumas ilustrações deste texto são retiradas) - trata-se da do Cartoon animado Money as Debt produzido pelo artista e ativista Paul Grignon, que explica de forma didática e reveladora o funcionamento do sistema monetário atual([1]).
Neste post o tema é: os ciclos econômicos.
Ciclos Econômicos
O conceito de ciclo econômico refere-se, em princípio, às flutuações da atividade econômica em períodos de vários mêses ou anos. O ciclo envolve uma alternância de fases de crescimento relativamente rápido (recuperação e prosperidade), com períodos de relativa estagnação ou declínio (contração ou recessão).
Os ciclos econômicos são caracterizados por uma dinâmica envolvendo um grande número de atividades econômicas e sociais, e não somente pelo movimento de uma única variável, embora essas flutuações sejam geralmente medidas em termos de variação do Produto Interno Bruto dos países ou dados monetários como estoque de dinheiro na economia.
Por ser um dos temas mais controversos da economia, o próprio termo "ciclo" parece soar alarmes para muitos cientistas sociais. Eles presumem que signifique algo mecanicista ou mesmo místico, destituído de validade científica, além de ser algo não comprovado, se não improvável. Sistemas sociais, ao contrário do mundo físico, não são apenas extremamente complexos, mas auto-direcionados e em constante evolução.
A palavra "ciclo", para alguns, evoca imagens de mecanismos de relógio exibindo periodicidades e regularidades estritas num padrão mal adaptado para descrever processos sociais. Esta é uma das razões para muitos estudiosos adotaram a terminologia "ondas" (waves), no lugar de "ciclos". Mas formalmente, nem onda nem ciclo transmitem uma implicação inerentemente mecanicista e fechada. Ambos os termos podem se referir tanto a periodicidade física ou a uma sequência não-periódica repetindo-se. No mundo físico (específicamente na dinâmica), os ciclos são fundamentais para a estruturação de massa e energia em todo o universo em todos os níveis, mas todos os níveis também manifestam mudanças não-cíclicas irreversíveis no tempo. A radiação eletromagnética, por exemplo, é uma oscilação em fase dos campos elétricos e magnéticos, e é tanto cíclico (natureza ondulatória) como corpuscular (natureza das partículas).
A primeira exposição sistemática acerca de crises econômicas periódicas, em oposição à teoria existente de equilíbrio economico, foi proposta por Jean Charles Léonard de Sismondi ([2]). Antes, a economia clássica negava a existência de ciclos econômicos, alegava que fatores externos, nomeadamente a guerra, eram sua causa. Sismondi encontrou evidências e justificativas para sua teoria no Pânico de 1825, que foi indiscutivelmente a primeira crise econômica internacional que ocorreu em tempos de paz. Sismondi e seu contemporâneo Robert Owen, identificaram a causa dos ciclos econômicos como superprodução e subconsumo, ocasionados em especial, pela desigualdade de riqueza. À época, eles defenderam a intervenção do governo e a adoção do socialismo, respectivamente, como a possível solução. O trabalho não gerou interesse entre os economistas clássicos, embora tenham lançado a teoria do subconsumo, desenvolvida como um ramo da economia, o qual foi posteriormente sistematizado na economia keynesiana nos anos 1930.
As crises periódicas do capitalismo formaram uma das bases para as críticas à ecônomia política de Karl Marx, o qual dedicou centenas de páginas de Das Kapital (cujo primeiro volume é de 1867) às crises. No Manifesto Comunista de 1848, Karl Marx e Friedrich Engels descreveram as tendências de crise do capitalismo em termos de "a destruição forçada de uma massa de forças produtivas":
(...) uma sociedade que conjurou gigantescos meios de produção e de troca, é como o feiticeiro que já não é capaz de controlar os poderes do mundo que ele criou através de suas magias. (...) Basta mencionar as crises comerciais que, por seu caráter periódico colocam a existência de toda a sociedade burguesa em julgamento, de forma cada vez mais ameaçadora. Nessas crises, uma grande parte, não só da produção existente, mas também das forças produtivas criadas anteriormente, é periodicamente destruída. Nessas crises, eclode uma epidemia, a qual, em todas as épocas anteriores teria parecido um absurdo - a epidemia da superprodução. (...) E como a burguesia vence essas crises? Por um lado, pela destruição violenta de uma massa de forças produtivas, por outro lado, pela conquista de novos mercados e pela exploração mais intensa dos antigos. Isto é, com a pavimentação do caminho para crises mais extensas e mais destruidoras, e diminuindo as formas pelas quais crises são evitadas.
Lembrando que Marx e Engels escreveram estas palavras em 1848, e portanto, ha mais de 160 anos, e mais de 80 anos antes da chegada da crise de 29 e da Grande Depressão que se seguiu e arruinou a economia dos Estadosunidos e do mundo. Evidentemente, o manifesto - como o próprio nome sugere - aborda a questão de forma, digamos, didática e sintética, mas os mecanismos causadores das crises de sua época foram muito bem explorados por Marx em seus livros e teorias([3]).
Portanto, o chamado ciclo econômico, ou "ciclo do comércio" do capitalismo (de 7 a 11 anos) já era conhecido de todo homem de negócios do século XIX, quando uma periodicidade um tanto mais longa começou a chamar a atenção no fim deste século, a medida em que observadores inferiram em retrospecto as peripécias das décadas anteriores. Clamava-se por uma explicação convincente que indicasse, sob a ótica do capital, as prováveis causas dos ciclos.
Em um artigo publicado em Novembro de 2000 [[4]] por Alan Woods, vemos que nos debates que tiveram lugar no seio da Internacional Comunista no início dos anos 1920 a questão do ciclo econômico foi discutida com alguma profundidade. Os ultra-esquerdistas [como Stalin, p.e.] defendiam o argumento de que aquele período de grandes conturbaçoes representava a crise final do capitalismo. Alegavam que o capitalismo iria entrar em colapso sob o peso de suas próprias contradições. Lenin e Trotsky, ao contrário, apontavam que não há tal coisa como a crise final do capitalismo, no sentido de um colapso automático do sistema. Deixado a si mesmo, o sistema capitalista sempre encontraria uma maneira de superar e sair da crise - embora a um custo mais terrível para a classe trabalhadora e para a civilização humana.
Kondratiev
Foi então que, na década de 20 um economista russo Nikolai Dmitrievich Kondratiev (*1892, +1932) desenvolveu uma teoria baseada numa série de "ondas longas" (de 50 a 60 anos) que vieram a ser conhecidas por ondas de Kondratiev. Tanto para os ciclos mais curtos como as ondas longas, a delimitação exata de cada período é controversa, porém, em linhas gerais, é possível estabelecer a existência de alguns desses períodos, e - novamente olhando em retrospécto - seria também possível inferir possíveis causas e características de cada um.
Kondratiev foi diretor do Instituto de Investigações Econômicas de Moscou. Foi um economista talentoso e original, e teve um trágico destino. Como tantos intelectuais proeminentes que brilharam nos primeiros anos do poder soviético, ele terminou sua vida em um dos campos de trabalhos forçados de Stalin. A natureza trágica de sua morte e a natureza corajosa e notavelmente original de suas hipóteses cercou seu nome com uma aura quase mística. Em alguns círculos ele é visto como um grande guru cuja teoria de "ondas longas" serve para explicar (e, além disso prever) amplos desenvolvimentos históricos.
Kondratiev baseou sua teoria na análise de Marx sobre o ciclo de comércio - o ciclo normal de booms e recessões que é característica fundamental do capitalismo. No entanto, não há nenhuma relação entre ambos. A teoria de Marx do ciclo capitalista é precisamente explicada nos três volumes de O Capital. Todo o processo é apresentado em grande detalhe e o mecanismo preciso é explicado a partir de qualquer ponto de vista. Por outro lado, a teoria de Kondratiev é uma hipótese muito particular, com base em alguns fatos arbitrariamente seleccionados para "ajustar" em seu caso.
[Nicolai Kondratiev]
Fato é que Kondratiev não era um "marxista contaminado pela ideologia comunista", mas tão somente um dedicado pesquisador e acadêmico. Suas teorias foram exibidas pela primeira vez em uma série de artigos no início dos anos 1920 no Terceiro Congresso da Internacional Comunista em 1922. Em 1924 ele publicou um artigo com o título A Estatística e a concepção dinâmica e flutuações Econômicas, que estabelece a sua tese básica. No ano seguinte, ele resumiu suas idéias em forma de livro. Mas por esta altura o clima na União Soviética já estava mudando. A ascensão da burocracia stalinista significava que todos os que não servilmente seguissem os ditames da liderança estavam em perigo de cair em desgraça. Em 1922 Trotsky fez algumas críticas à teoria de Kondratiev, mas o regime de Stalin usou outros métodos para resolver as diferenças. Kondratiev foi silenciado, afastado do seu posto e caiu na obscuridade. Então, no final de 1930, quando Stalin estava já a preparar os métodos que mais tarde iriam se transformar na infame "Grande Purga", Kondratiev foi repentinamente preso e acusado de ser o chefe do inexistente partido dos trabalhadores camponeses. A acusação era absurda. Mas, mesmo sem a pretensão de um julgamento Kondratiev foi enviado para a Sibéria, onde morreu em setembro de 1932, sob circunstâncias que nunca foram esclarecidas.
Schumpeter
Desta sorte, posteriormente, Joseph Schumpeter (*1883, +1950), definiu quatro fases para um ciclo econômico: (1) crescimento, (boom); (2) recessão; (3) depressão; (4) recuperação. Segundo sua teoria, embora os ciclos econômicos se repitam, e sejam caracterizados por períodos de expansão e contração da atividade econômica, não são necessariamente periódicos. São, no entanto, fenômenos característicos das economias de mercado, impulsionados pelos paradigmas provocados por inovações empresariais.
[Joseph Schumpeter]
Schumpeter elaborou este conceito, tornando-se central para sua teoria econômica, sendo que a fonte mais provável pode ser encontrada em seu livro Ciclos de Negócios de 1939. Foi a partir deste livro que o mundo ocidental conheceu pela primeira vez Nikolai Kondratiev e seu ciclo de onda longa. Tais ciclos, Schumpeter acreditava, eram causados pelas inovações, que caracterizam uma fonte de poder de mercado temporário, corroendo os lucros e posição das empresas mais antigas, que vem a sucumbir à pressão destas inovações.
[Ondas de Inovação de Schumpeter]
Na visão de Schumpeter, a atuação "inovadora" da grande empresa (e não mais do empresário/empreededor) é a força que sustenta, à longo prazo, o crescimento econômico, mesmo que isso leve à falência companias estabelecidas (e ao desemprego em massa dos trabalhadores) que tenham obtido algum grau de poder a partir do monopólio derivado do paradigma anterior, quer seja tecnológico, organizacional, regulamentar ou econômico. Tal é a base do conceitro de "destruição criativa", pois tenciona explicar muitas das dinâmicas ou cinéticas de mutações industriais: A transição de um mercado competitivo para um mercado monopolista, e vice versa. Foi a inspiração da teoria do crescimento endógeno e também da economia evolucionária.
Keynes
John Maynard Keynes (*1883, +1946), foi um economista britânico cujos ideais serviram de influência para a macroeconomia moderna, tanto na teoria quanto na prática. Ele defendeu uma política econômica de Estado intervencionista, através da qual os governos adotam medidas fiscais e monetárias para mitigar os efeitos adversos dos ciclos econômicos - recessão, depressão e booms. Suas ideias serviram de base para a escola de pensamento conhecida como economia keynesiana.
[John Maynard Keynes]
Na década de 1930, Keynes iniciou uma revolução no pensamento econômico, se opondo às ideias da economia neoclássica que defendiam que os mercados livres ofereceriam automaticamente empregos aos trabalhadores contanto que eles fossem flexíveis em suas demandas salariais. Após a eclosão da Segunda Guerra Mundial, as ideias econômicas de Keynes foram adotadas pelas principais potências econômicas do Ocidente. Durante as décadas de 1950 e 1960, o sucesso da economia keynesiana foi tão retumbante que quase todos os governos capitalistas adotaram suas recomendações.
A influência de Keynes na política econômica declinou na década de 1970, parcialmente como resultado de problemas que começaram a afligir as economias estadunidense e britânica no início da década e também devido às críticas de Milton Friedman, Hayek e outros economistas neoliberais pessimistas em relação à capacidade do Estado de regular o ciclo econômico com políticas fiscais. Entretanto, o advento da crise econômica global do final da década de 2000 causou um ressurgimento do pensamento keynesiano. A economia keynesiana forneceu a base teórica para os planos do presidente estadunidense Barack Obama, do primeiro-ministro britânico Gordon Brown e de outros líderes mundiais para aliviar os efeitos da recessão.
Teoria Austríaca do Ciclo Económico [TACE]
Posteriormente e concomutantamente, diversas hipóteses surgiram, complementando ou alterando a configuração básica dos ciclos econômicos tal como proposta por Kondratiev e Schumpeter. Uma destas versões, a teoria austríaca do ciclo económico (TACE) procura explicar o ciclo econômico através de um conjunto de causas crônicas, tal como propostas pela escola austríaca de economia (EAE).
Os fundadores da teoria austríaca do ciclo econômico historicamente foram Ludwig von Mises e Friedrich Hayek. Hayek ganhou o Prémio Nobel de Economia em 1974 (partilhado com Gunnar Myrdal), em parte, por seu trabalho sobre esta teoria. Resumidamente a TACE caracteriza o ciclo longo a partir de quatro fases, apelidadas com o nome das estações do ano. De acordo com a TACE, a característica de cada uma destas fases é resumidamente descrita no infográfico abaixo[[5]].
[principais características da onda longa, segundo a TACE]
Pela teoria, os ciclos econômicos são vistos como uma consequência inevitável do crescimento excessivo da concessão de crédito, amplificada por políticas governamentais ineficazes e destrutivas dos bancos centrais (ver este post a respeito), que diminuem a taxa de juro em demasia por muito tempo. Tais ações, por sua vez levam a um boom insustentável durante o qual o empréstimo, artificialmente estimulado, acaba por diminuir as oportunidades de investimento. Esse boom resulta em maus investimentos (malinvestments) generalizados, fazendo que os recursos de capitais sejam mal distribuídos em áreas que não atrairiam investimentos se os "sinais" de preço não fossem distorcidos. A crise de correção ou de crédito ocorre quando a criação de crédito não pode ser sustentada. O mercado finalmente se "limpa" (falências), causando realocação de recursos que são redistribuídos para usos mais eficientes.
Atuais Contribuições da TACE
Mesmo dentro da denominada escola austríaca de economia, existem atualmente várias linhas de pensamento[[6]], e há diferenças claras entre elas. Porém, aparentemente, a abordagem dominante hoje em dia é a anarco-capitalista de Murray Rothbard, Hans-Hermann Hoppe e outros. Trata-se de uma forma de capitalismo que é ainda mais libertária e anárquica do que a defendida por muitos libertários[[7]].
Como disse Matthew Yglesias em recente artigo publicado no site slate.com: "A 'economia austríaca', neste sentido, vai além do pensamento padrão de mercado livre em um número de maneiras. mais notavelmente, ela [a escola austríaca] busca construir um forte caso ético para o libertarianismo estrito sem admitir que isso levaria a problemas concretos, em absoluto. Portanto, juntamente com a rejeição da legitimidade de qualquer intervenção para proteger os pobres ou regular algo (uma posição muito mais radical do que até mesmo a de Hayek do Caminho da Servidão), os atuais austríacos rejeitam a idéia de que há qualquer coisa em fim, que o governo possa fazer para estabilizar as flutuações da macroeconômia."
E continua Yglesias: "Os austríacos também acreditam que o corte de impostos para impulsionar a atividade econômica também não funciona. Eles não concordam com a idéia de Milton Friedman de que um apropriado estímulo monetário feito pelo FED (o banco central americano) poderia ter evitado a Grande Depressão. Na verdade, eles discordam, mesmo da menos controversa de todas as medidas de estabilização, o ajuste normal das taxas de juro de curto prazo que todos os bancos centrais modernos usam para tentar impedir tanto inflação quanto deflação. Na visão dos austríacos, praticamente todas as políticas econômicas lançadas pelos governos federais [e respectivos bancos centrais] são erros que distorcem os mercados. Em vez de curar as recessões, os austríacos afirmam que as políticas de estímulo as causam, produzindo bolhas insustentáveis."
De qualquer forma é inegavel a importante contribuição da teoria austríaca do ciclo econômico na compreesão mais abrangente dos vários efeitos de longo alcance dos ciclos econômicas, e muitos de seus nefastos mecanismos (inflação, desemprego, formação de bolhas imobiliárias, especulações, falências, etc). No momento em que foi apresentada, a teoria do ciclo de negócios de Mises e Hayek era realmente um avanço teórico muito grande. Os principais concorrentes eram os defensores ortodoxos da Lei de Say, que negavam que um ciclo de negócios fosse possível (o desemprego era atribuído a sindicatos ou a salários mínimos impostos pelo governo), além dos marxistas que ofereciam um modelo de crise catastrófico, impulsionado pelo declínio da taxa de lucro. Os austríacos foram, de fato, os primeiros a oferecer boas razões para a não-neutralidade da moeda. A expansão da oferta de moeda iria diminuir (curto prazo) as taxas de juros e, portanto, fazer os investimentos mais atrativos.
No entanto, segundo análise feita pelo economista e professor da Universidade Johns Hopkins, John Quiggin (aqui resumida em seu pontos principais):
Ha uma implicação óbvia sobre a possível inferência extraída dos resultados do mercado. Se investidores antecipam corretamente que um declínio nas taxas de juros será temporário, pela lógica, eles não iriam avaliar investimentos de longo prazo com base em taxas atuais. Assim, a teoria austríaca exige uma falha racional de expectativas ou ainda uma falha no mercado de capitais, o que significa que os indivíduos racionalmente optariam por fazer 'maus' investimentos no pressuposto de que alguém vai arcar com o custo. E se qualquer uma destas condições se aplica, não há razão para pensar que os resultados do mercado serão ótimos afinal.
Isso implica que, no modelo austríaco, o consumo deveria ser negativamente correlacionado com os investimentos ao longo do ciclo de negócios, quando na realidade o oposto é verdadeiro. Na medida em que booms são movidos por crenças equivocadas de que os investimentos se tornam mais rentáveis, são, portanto tipicamente caracterizados por alto consumo, e não baixo.
E ainda, a teoria austríaca aborda pouco a questão dos mercados de trabalho, mas para a imensa maioria das pessoas, é o desemprego o que torna o ciclo de negócios um problema. Coube a Keynes produzir uma teoria em que, a não neutralidade da moeda poderia produzir um certo "desemprego sustentado". A idéia de ciclo de crédito pode ser facilmente combinada com uma forma keynesiana de sub-emprego de equilíbrio, e ainda mais facilmente com a idéia keynesiana de 'espírito animal'. Isso foi feito de forma mais destacada por Minsky, e a idéia de espíritos animais foi recentemente revivida por Akerlof e Shiller.
Infelizmente, tendo dado os primeiros passos na direção de uma teoria séria do ciclo de negócios, Hayek e Mises passaram o resto de suas vidas dando duro na direção oposta, alimentando e realimentando seu declarado ódio contra o socialismo, marxismo e suas muitas vertentes. De fato, Hayek e Mises (e muitos dos atuais economistas austríacos) ao interpretar a crise de 1929, adotaram uma visão que -– apesar de não implícita pela teoria -- reflete claramente um compromisso a priori dos autores ao laissez-faire. O resultado foi que Hayek perdeu o apoio até mesmo de simpatizantes iniciais, e, ainda de acordo com John Quiggin, "esse erro tem se enrijecido em verdadeiro dogma nas mãos de seus atuais sucessores."
O Fluxo de Causalidade
Como visto, apesar de historicamente importante e relevante, nas últimas décadas a teoria austríaca dos ciclos econômicos se manteve estagnada em função de compromissos ideológicos anti-intervencionistas radicais por parte de seus atuais defensores. E ademais, a interpretação dos eventos, efeitos e consequências detro dos ciclos econômicos na teoria austríaca não contribui, de fato, para explicar as reais causas estruturais presentes e erradicadas dentro do sociometabolismo das crises. A abordagem austríaca (que adota sempre o ponto de vista do capital), analisa o ciclo econômico sempre a partir de seus efeitos para a partir deles tirar conclusões, tais como os malinvestiments, (provável efeito da expansão monetária provocada pelos governos). Porém -- assumindo por hora que os investidores ingenuamente erram em suas previsões ao apostar em investimentos de longo prazo a partir de taxas de juros artificialmente baixas –- ainda assim resta uma questão: por quê tais investimentos deveriam ser classificados como malinvestiments?
No argumento da EAE, quando um governo expande a oferta de moeda "imprimindo dinheiro", facilitando o crédito e aliviando taxas de empréstimo, etc - isso artificialmente aumenta os investimentos, os quais são denominados de mau-investimentos (malinvestiment), em projetos que não teriam sido iniciados, caso tais ofertas de crédito não ocorressem, visto que, segundo a interpretação da TACE, atingem proporções suficientes que precisam passar por um "processo de realocação", e o resultado seria recessão.
No entanto, tal argumentação se apóia na "lógica" dedutiva de que mal-investimentos vão inevitavelmente ocorrer. É fato que bancos centrais permintem e incentivam investimentos que do contrário estariam aguardando por ocorrer, porém, de acordo com a teoria austríaca, investimentos de qualquer tipo, quando estagnados devido a recessão, ficam "marcados" como sendo mau-investimentos caso os governos tomem medidas para deixa-los acontecer. Acreditar ou não que tais investimentos teriam sido mais sólidos numa economia de expanssão depende exclusivamente do que se deseja crer à priori.
A argumentação com base no "processo de realocação" esconde na verdade uma outra realidade muito mais estrutural característica do sociometabolismo das crises. Em princípio, investimentos somente se tornam "maus" quando sua contrapartida, ou sua consequência direta, não atinge e não contempla o tecido social como um todo. Ou seja, quando este dinheiro virtualmente "flui" das máquinas de impressão do governo até as mãos de poderosos (acionistas, CEOs, ricos homens de negócio, políticos corruptos, investidores parasitas, banqueiros e afins) com a única, inevitável, "incômoda" e necessária extração de excedentes dos trabalhadores, os quais realmente produzem e carregam, alienados e compactuados, toda esta absurda realidade nas costas.
Ao conjecturar com base em tais argumentos, o primeiro clamor, ou a primeira colocação a ser repondida é como, ou "com base em que?", tais hipóteses podem ser colocadas. De fato, recentemente diversos autores tem contribuído com verdadeiras "garimpagens", e oferecido ao público vultuosos bancos de dados com preciosas e claras informações acerca da distribuição de renda no passar dos anos para diversos países. Tais compilações abrangentes e organizadas de dados praticamente inexistiam até recentemente, e o acesso a estas informações era escasso e difícil. Um destes autores, o economista francês Emanuel Saez, diretor do Center for Equitable Growth, da University of California Berkeley, tem publicado uma série de artigos e dados onde reúne, organiza e analisa informações acerca da desigualdade de renda nos Estadosunidos e em diversos outros países.
Antes de seguir com a análise, deve-se enfatizar que a hipótese aqui exposta não tem, obviamente, a intenção de encerrar o assunto, nem de elucidar em definitivo a questão -- que envolve, obviamente, diversos outros fatores e processos -- mas tão somente lançar luz em outras questões, que aparentemente (até onde pudemos verificar) ficam relegadas à desimportância e classificadas como meros efeitos, quando na verdade, uma outra abordagem pode nos apontar, ou elucidar, exatamente o contrário.
Uma outra contribuição importante de Saez, além da valiosa coleta, organização e análise dos dados, é buscar um enfoque mais objetivo, claro e direto na análise interpretativa destes dados, ao publicar a distribuição de renda nos países de acordo com parcelas percentuais concentradas no topo mais rico, evitando assim interpretações de curvas e coeficientes complicados e abstratos. De acordo com Saez, "a medida de síntese mais comumente utilizada de desigualdade geral, o coeficiente de Gini, é mais sensível às transferências no centro da distribuição do que a nos extremos. (O coeficiente de Gini é definido como a razão entre a área entre a curva de Lorenz e a linha de igualdade sobre a área total sob a linha de igualdade). Mas as parcelas de renda no topo podem afetar materialmente a desigualdade global", tal como demonstra Saez em seu trabalho.
Apesar de a inferência direta com os ciclos econômicos não ser exatamente o foco de Saez em suas análises, seus dados demonstram uma clara correspondência entre as oscilações das ondas longas de Kondratiev com as oscilações de desigualdade de renda dentre as pessoas nos países.
[Parcela de Renda dos 10% mais ricos nos Estadosunidos]
O gráfico da figura acima[[8]] mostra o caso particular da parcela de renda dos 10% mais ricos nos Estadosunidos, onde pode-se verificar que, segundo Saez, "a parte do rendimento total que vai para as faixas de renda superiores aumentou dramaticamente nas últimas décadas nos Estados Unidos e em muitos outros países (...). Tomando o caso dos EUA, (...) depois de um declínio (de 10 pontos percentuais) precipitada durante a Segunda Guerra Mundial e da estabilidade nas décadas do pós-guerra, a participação decil superior subiu (um aumento de mais de 10 pontos percentuais) desde os anos 1970 e chegou a quase 50 por cento até 2007, o maior nível já registrado."
Olhando para esta curva, é inevitável pensar na similaridade que ela apresenta com os altos e baixos das ondas longas de Kondratiev. A figura seguinte sobrepõe a curva característica das ondas longas de Kondratiev sobre a curva da parcela de renda dos 10% mais ricos nos Estadosunidos.
[parcela de renda dos mais ricos e a onda longa]
Fica clara a possibilidade de inferência, e a possibilidade de se colocar como um fator preponderante das crises – junto da superprodução, e da extração de excedentes – a superacumulação de renda por parte de uma pequena parcela da sociedade. Porém, é de se esperar que outros analistas aleguem, sempre pela ótica do capital, que isso não passa de mero efeito menor da crise - visto que – alegam os liberais convíctos – a questão da desigualdade é "algo inevitável", é "reflexo do mérito individual", é o "resutlado do esforço", da "disciplina, sobriedade, comprometimento e princípios" etc... e assim sendo, consequentemente, os que não ascendem socialmente para a faixa superior da distribuição de renda são os incapazes, os preguiçosos, os vagabundos, os descomprometidos, os que "não merecem", etc. Ora, se assim o fosse, a parcela da renda correspondente aos 10% mais ricos – ou os mais capazes, dignos, dedicados, inteligentes, trabalhadores e esforçados – não sofreria toda esta clara e evidente oscilação, acompanhando (ou antes contribuindo para) as intempéries das crises, e se manteria relativamente estável durante todo o período. Mas não é bem isso que nos mostra a curva acima levantada por Saez...
A hipótese conjunta de superprodução, extração de excedentes e superacumulação não é nova, e já se apresentava nos trabalhos de Marx e Engels, e foi diversas vezes colocada, revista e atualizada por diferentes autores, porém, a questão da distribuição de renda, como um dos fatores preponderantes das crises, carecia de aporte empírico fortalecido (apesar de ser afirmativamente apresentada e analisada pelos coeficiente de Gini, e outras análises). O excelente trabalho de Saez tem contribuído ao preencher esta lacuna, e tem colocado em evidência tais questões, o que, de fato, tem deixado muitos defensores da ordem existente bastante encabulados.
Para Concluir com as palávras de Saez: "Há um grande número de razões para estudar o desenvolvimento das parcelas de rendimento no topo. Entender o grau de desigualdade pelo topo e a importância relativa dos diferentes fatores que levam às crescentes partes superiores é importante no dimensionamento de políticas públicas. A preocupação com o aumento da parcela de renda no topo em vários países tem levado a propostas de maiores taxas de imposto sobre esta parcela superiore; outros países estão considerando limites de remuneração e bônus. A distribuição global está sob crescente escrutínio a medida que globalização avança."
[1] [http://paulgrignon.netfirms.com/MoneyasDebt/index.htm] As ilustrações presentes no texto que forem provenientes dos cartoons de Paul Grignon conterão em sua legenda o seguinte acrônimo: (PG, MaD) de Paul Grignon, Money as Debt.
[2] Sobre este assunto, ver [em inglês]: [http://www.economictheories.org/2008/11/over-production-and-under-consumption.html], [http://theweek.com/article/index/95385/the-panic-of-1825], [http://en.wikipedia.org/wiki/Business_cycle#cite_note-1]
[3] De sua época, pois diversas particularidades do sistema do capital vigentes à época de Marx foram modificadas e/ou adaptadas para a realidade atual de um sistema de abrangência global, o que remete às atualizações do pensamento de Marx (Escola de Frankfurt, István Mészáros, Slavoj Žižek, Antonio Negri, Zygmunt Bauman, dentre vários outros).
[4] [http://www.marxist.com/marxism-theory-long-waves-kondratiev141100.htm]
[6] Ver a respeito: [http://socialdemocracy21stcentury.blogspot.com/2010/12/different-types-of-austrian-economics.html]
[7] Os seguidores de Rothbard, associados do Instituto Mises, tem travado uma "guerra" de décadas contra os irmãos Koch e contra a forma mais mainstream de libertarianismo que os mesmos representam. Ver a respeito: http://www.lewrockwell.com/gordon/gordon37.html
[8] Saez, Emmanuel, et al, Top Incomes in the Long Run of History, Journal of Economic Literature 2011, 49:1, 3–71
http:www.aeaweb.org/articles.php?doi=10.1257/jel.49.1.3
Uma dúvida: se o capitalismo se regenera após cada crise cada vez mais forte, renascendo das cinzas, o que nos resta senão contemplar este fênix até o final dos tempos?
ResponderExcluirHá meu caro Chypriano! Este é o discurso que querem que adotemos! O 'espírito do mundo' de Hegel, ou a 'mão invisível' de A.Smith, a 'ordem ampliada' de Hayek... Como fio várias vezes dito e redito pela Dama de Ferro M. Thatcher, e reverberado hoje pelos que continuam adotando o ponto de vista do capital: "não ha alternativa"... Bem, tal como disse Zigmunt Bauman: o otimista pensa que este é o melhor dos mundos, e nada podemos fazer para mudar isso. Já o pessimista pensa que este é o pior, e temos que aceitar nosso trágico "destino", por isso, eu, particularmente, neste aspecto, não sou nem otimista nem pessimista, pois penso que um mundo melhor, mais justo e humano é perfeitamente possível, apesar de -- claro -- não ser nada fácil e suave atingi-lo! Espero que possas compartilhar deste pensamento.
ResponderExcluirCheguei a este texto graças a você num post da boitempo, muito obrigado, gostei mesmo. Gostei do seu comentário também, mas citar esse Bauman me causa estranheza, o cara é muito ruim. Não consigo nem assistir o jornal da cultura quando ele está comentando, parece um verdadeiro bocó, até sua citação indica isso, pura tautologia.
ExcluirBom, gosto não se discute.
Abraço.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluircaro Anônimo,
ResponderExcluirchamar Zygmunt Bauman de bocó...????
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um sociólogo de mais de 80 anos, e um dos poucos dos nossos contemporâneos que ainda tem idéias inovadoras, de prodigiosa produção intelectual, pela qual recebeu os prêmios Amalfi (em 1989, por sua obra Modernidade e Holocausto) e Adorno (em 1998, pelo conjunto de sua obra)....
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é no mínimo estranho....
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desconheço este tal do jornal da cultura, mas se quer conhecer um pouco mais do Zygmunt Bauman, coloca lá no oráculo [vulgo google]: "zyugmunt bauman", ou acesse estes links:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Zygmunt_Bauman
http://xiitadainclusao.blogspot.com/2010/06/educacao-liquida-mas-nao-certa.html
http://redesocial.unifreire.org/quesia/quesia/zygmunt-bauman-a-pos-modernidade-e-o-medo-do-novo
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espero que repense sua afirmação "bocó"...
do contrário:
estranho....
[s]
barlavento
Caro colega, aqui é o mesmo anônimo bocó que cometeu um erro mais do que imbecil ao confundir o Zygmunt com um outro bocó pseudo-filósofo que comenta no jornal da cultura, um professor da usp chamado Luiz Felipe Pondé (esse sim o bocó que eu me referia). Não sei bem o que me fez achar que ela era o Zygmunt, acredito que um vídeo do youtube onde ele falava do zygmunt). Bom, lamento minha ignorância em nunca ter ouvido falar falar do verdadeiro, vejo que ele tem trabalhos importantes, descobri isso isso antes dos seus links, o que me fez voltar aqui para me redimir.
ExcluirBom, minha conclusão é, nada contra esse seu Zygmunt, eu sou só um bocó que jura de pés firmemente unidos que o Luiz Felipe Pondé é um VERDADEIRO BOCÓ bocejante...sei que ele não tem nada a ver com o post mas, já que eu falei merda, pelo menos me deixe continuar defendendo minha tese.
Fala, Barlavento.
ResponderExcluirNão vejo incoerência entre o enriquecimento dos mais ricos e a TACE.
Quando analisamos a crise de 2008, vemos que as bolhas levam ao empobrecimento de muitos à custa do enriquecimento de poucos.
Essa ideia não é nova entre autores da escola austríaca.
Não existe consenso na questão das Reservas Fracionárias, mas alguns, como eu, acreditam que um banco utilizar um dinheiro que não é dele deveria ser um crime. Só deveria existir crédito em contra partida à uma poupança real.
Nesse caso, não existiria a farra do crédito fácil, juros "baixos", etc, uma vez que não haveria um Banco Central nesse esquema, e os juros não seriam determinados, mas sim seriam livres.
1 - não vejo essa política ser adotada em nenhum lugar do mundo, então não podemos verificar na prática suas consequências.
2 - os governos continuam insistindo na prática de diminuição de juros/crédito, aumento de juros/recessão. Sendo assim, se nada diferente é tentado, dificilmente chegaremos a resultados diferentes.
3 - não vejo em discussão alguma proposta diferente dessas duas. Não acho que devemos todos acreditar na TACE e pronto, mas fica difícil se ninguém propõe algo diferente.
Ficou claro, na superposição dos gráficos que mostram as curvas de Saez e Kondratiev que o movimento de superacumulação ( concentração da renda e das riquezas no topo dos 10% mais ricos), ocorre, concomitantemente, com o movimento de crises (recessão econômica), com todos os danos que disso sucedem.Isso só foi possível demonstrar com os trabalhos de pesquisas de longo prazos, levado a efeito recentemente pelo francês Emanuel Saez e bem colocado no livro O Capital no Seculo XXI, de Piketty. Parte do que "Anônimo" falou em relação à farra do crédito, pode ser considerada como os "maus investimentos" considerado na formulação da TACE, tanto no critério do consumo como dos "investidores" que gozam do privilégio de receber benesses calorosas dos governos aparelhados e ou de apaniguados.Esses maus investimentos são em parte também causa da elevada concentração da renda em mãos dos 10% mais ricos. O bom investimento seria aquele que tem uma contrapartida real e ocorre de forma a contemplar o tecido social como um todo. Assim, fica claro que a TACE, vai sendo despojada de validade, quer no sentido de teoria científica, quer no sentido filosófico. Ademais, como diz o artigo, a hipótese de crises provocadas pela força conjunta de superprodução, extração da mais valia (exploração dos trabalhadores), e superacumulação está longe de ser coisa nova, e já se apresentava nos trabalhos de Marx e Engels, desde 1948. Porém aqui, surge a questão da distribuição de renda com força preponderante ( vide gráfico), o que já estava de certa forma indicado pelo método do coeficiente de Gini. O rei, agora, de fato está nú! Segue-se porém, que tomada pelas mesmas forças que dominam e se beneficiam do poder do Capital, a política não encontra coragem nem ânimo para enfrentar essa grave e perversa questão.
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