sábado, 4 de fevereiro de 2012

geleia de menta








Recentemente foi direcionado um comentário neste blog provindo do Sr. Getúlio, mantenedor do blog denominado "O Filósofo". No comentário o Sr. Getúlio alega que a "leitura" do tratado “Ação Humana” do economista austríaco L. Von Mises aqui publicado estaria equivocada, e coloca na sequência um link onde sugere uma resposta ao texto. Nesta resposta, diz ele serem "temerárias" as contestações feitas e publicadas neste blog acerca do tratado da ação humana de Von Mises. Fico sem compreender os motivos de tal temeridade, e ao ler e analisar sua resposta, nota-se que talvez careça de algumas colocações que considero importantes. Tal qual disse o Sr. Getúlio, embora o presente texto seja dirigido especialmente à sua resposta, também representa um esforço pessoal de aprendizado, o qual, também espero, possa ser compartilhado por outros que eventualmente com ele se deparem por aqui.

Em seu texto, o Sr. Getúlio busca responder questões levantadas na parte inicial do texto aqui publicado, e para tanto, demonstra um esforço retórico para legitimar a ideia de que a praxeologia de Mises tenha a alcunha de ciência. Porém, vejamos:

Em princípio pode-se dizer que a ciência somente é válida quando amplamente aceita e verificável. Porém, teorias e ideias são em maior ou menor grau refutadas e/ou incorporadas em outras correntes e ideias, modificadas, dando origem a novas e diferentes ideias. Graças a esta dinâmica o conhecimento não é estático e morto, mas constantemente modificado, renovado e revigorado. O fato é que desde sua ideia original na década de 40, até o presente, nada incorporou seriamente as ideias de Mises neste movimento.... suas ideias somente surtiram efeito dentro do círculo limitado da Escola Austríaca de Economia e da filosofia objetivista. E mesmo dentre seus pares sofre sérias reservas, como veremos mais a frente.

No entanto, evidentemente a ciência não é o altar sacrossanto da ética e da isenção – como poderia se crer a princípio.... Como disse o Milton Santos "a ciência tem, doravante um papel produtivo", ou seja, o trabalho científico foi praticamente colocado a serviço da produção, e a mídia representa um papel decisivo neste desvirtuamento, mas isso, de fato, é tema para outra discussão muito complexa, que podemos deixar para depois.

Uma alegação comumente adotada pelos economistas austríacos é que as imposições da mídia e do mainstream impedem que as ideias de Mises e da Escola Austríaca de Economia sejam devidamente vislumbradas. O que pode-se dizer é que a mídia não esta "plantando ideias" distintas contra Mises ou contra a EAE... O que a mídia reforça, em termos econômicos, é algo distinto das ideias de Mises, e -– havemos de concordar -– muito diferente das ideias de Marx, e mesmo das ideias originais de Keynes, ...apesar de tudo (hoje em dia, com um clique do mouse, acionistas podem mover seu capital para fora do país de origem, em fundos de investimento em mercados emergentes, ou para países mais seguros em termos econômicos p.e.). Ademais, a mídia manipula sim, claro, pois uma queda drástica no  consumo pode decretar a falência de muitos filhos e 'amigos' de algumas famílias importantes (no Brasil, p.e: os Frias, os Civitta, Marinho, Mesquita, Santos e uma "religiosa" os Macêdo)... portanto, é preciso manter o crescimento e a expansão a todo vapor!

Portanto, isto tudo mostra como pode ser frágil a defesa incondicional de uma postura objetivista dogmática (os conhecimentos que podemos adquirir são seguros e universais), ou mesmo de uma visão em perspectiva – onde se poderia, a princípio aceitar a existência de uma verdade absoluta, mas que a ninguém seria possível atingi-la em sua plenitude. Evidências históricas nos mostram que a preferência por certos padrões investigativos, e por certos objetivos cognitivos variam no tempo e no espaço, e são dependentes do contexto considerado. Assim, seriam questionáveis as tentativas de codificar a racionalidade científica mediante um certo conjunto de regras metodológicas que guiam a atividade científica; e também seria questionável a tese de que a racionalidade científica permaneça em grande parte estável e invariante com o passar do tempo, apesar das novas descobertas e das mudanças sociais e culturais. De qualquer forma, obviamente, como nos mostra o Sr. Getúlio em sua resposta, somos levados a reconhecer que a racionalidade científica não garante a formação do consenso, no sentido de que existem legítimos desacordos racionais na ciência.

Retomando o tema da praxeologia, Mises alegava que a ideia fundamental de seu sistema praxeológico é o axioma da ação humana. Esta proposição diz que toda ação humana é racional, porque toda a ação é, por definição proposital (deve-se notar que “proposital” é só uma redefinição peculiar do termo "racional", mas vamos aceitar a definição por hora). Mises argumentou que o axioma da ação humana era uma proposição sintética a priori. Proposições sintéticas a priori são um tipo de proposição proposto por Kant. Portanto, a praxeologia de Mises é um exemplo perfeito de apriorismo. Porém, não há nenhuma razão para acreditar que apriorismos fornecem um método consistente e confiável para a obtenção de teorias verdadeiras sobre o mundo real. Praxeologia tem afinidades óbvias com as filosofias de grandes racionalistas, [além de Kant], e neste grupo, certamente podemos encontrar muitos autores cujas ideias foram, em maior ou menor grau, refutadas.

Em outras palavras, a praxeologia depende de dedução, e requer premissas que são proposições sintéticas não verdadeiras a priori. O axioma diz que ações humanas voluntárias (exceto pelas insanas) são propositadas, e isso é usado nas deduções primeiras da praxeologia.

Ora, tal axioma é uma observação trivial que pode tranquilamente ser empregada por socialistas, marxistas, keynesianos, monetaristas, comunistas, capitalistas, etc.... ou qualquer outra 'escola' que se queira. E não existe mais nada de importante que se possa deduzir a partir disso. Fato é que entusiastas vulgares ou "pop" de tais ideias, fazem reivindicações verdadeiramente absurdas com base nesse axioma, como se todas as inferências da economia austríaca fossem verdades absolutas e irrefutáveis porque seguem o axioma da ação humana. Em seu tratado sobre a ação humana, Mises afirma que as afirmativas e pressupostos da praxeologia "
não estão sujeitas a verificação com base na experiência e nos fatos." [Mises, Ação Humana, pg. 59]. Porém, deve-se lembrar aos misenianos que mesmo o próprio Mises registrou reservas acerca do axioma por ele criado:

“Todo teorema da praxeologia é deduzido pelo raciocínio lógico da categoria de ação. Ele parte da certeza apodíctica fornecida pelo raciocínio lógico que começa a partir de uma categoria a priori. Na cadeia de raciocínio praxeológico o praxeologista introduz certas suposições sobre as condições do ambiente em que uma ação tem lugar. Em seguida, ele tenta descobrir como essas condições especiais afetam o resultado para que este raciocínio deva conduzir. A questão de saber ou não se as condições reais do mundo externo correspondem a estes pressupostos é para ser respondida pela experiência.” (grifos meus) [Mises, L. 1978 [1962]. The Ultimate Foundation of Economic Science: An Essay on Method (2nd edn, Sheed Andrews & McMeel, Kansas City.]

A "certeza apodítica" afirmada pela praxeologia realmente desaparece como fumaça de cigarro se houver dúvida sobre a verdade de suas declaradas premissas sintéticas e hipóteses ocultas. Portanto aceitar os declarados axiomas de Mises não implica necessariamente em aceitar seus "princípios", ou suas implicações à realidade, mesmo que sua lógica seja impecável! Tal como disse George J. Schuller, já há muito tempo: "quando uma cadeia lógica cresce além dos limites estabelecidos por suas suposições declararadas, tais suposições já não podem mais ser declaradas válidas". [Schuller, G. J. 1951. “Mises 'Human Action': Rejoinder” American Economic Review]. E verifica-se uma grande quantidade de suposições declaradas, baseadas em cadeias lógicas no tratado da Ação Humana de Von Mises.

Ainda, nem mesmo F. A. Hayek realmente compactuava com as ideias de Mises neste aspecto - vejamos o que o economista da escola austríaca disse a respeito:

"Eu nunca aceitei o apriorismo de Mises (...) Certamente 1936 foi o momento em que vi pela primeira vez a minha abordagem distinta com plena clareza --- mas naquele momento senti que eu era somente o último capaz de dizer claramente o que eu sempre acreditei --- para explicar com cuidado a Mises por que eu não podia aceitar seu apriorismo " [citado em:  Caldwell, B. J. 1984. “Praxeology and its Critics: An Appraisal,” History of Political Economy 163: 363–379.]

Bem, para tentar colocar tudo em termos mais "práticos", para compreender o comportamento bovino, vou lançar o seguinte axioma:


"O pasto da fazenda é verde, e o gado come o pasto!"


O axioma é válido e ninguém pode negá-lo. Tal como a praxeologia....

Porém, ...

Posso inferir que o gado come o pasto simplesmente porque é verde.... e tirar conclusões muito absurdas acerca da alimentação bovina ao tentar alimentá-los com geleia de menta por exemplo.... E ainda, nada me diz o axioma acerca da cadeia de energia envolvida, ou seja: radiação solar -- fotossíntese -- pasto -- gado -- abate -- transporte -- açougue -- bife -- digestão -- este raciocínio....! Em vez disso, quando os misenianos fazem suposições para depois usar um raciocínio a priori e fazer inferências usando essas proposições, suas conclusões são válidas quando aplicadas ao mundo por eles imaginado, restrito às suas crenças, valores, limitações, etc, onde as hipóteses podem ser hipoteticamente válidas. Porém, se como disse o Sr. Getúlio em seu texto, se "as ciências não são conjuntos de crenças, mas reais conhecimentos sobre o mundo”, como se pode construir conhecimento baseado em axiomas-apriorísticos, que nada dizem a respeito da realidade última das pessoas? e erigir daí suas teorias acerca das preferências das pessoas, preços, desigualdade, liberdade, propriedade, etc, etc...

Que fique bem claro, não se questiona aqui a validade do axioma em sí, mas sim sua aplicação na sociedade: qualquer inferência absurda pode ser feita a partir do pressuposto, como, para citar um exemplo, a "teoria do valor subjetivo", ou a " teoria da utilidade marginal" que não foram propostas originalmente por Mises, mas são amplamente amparadas pelos axiomas misenianos, o que a torna evidentemente bastante questionável, para se dizer o mínimo. Mas seria preciso dedicar um certo esforço para se tentar provar detalhadamente a falsidade destas inferências, o que pretendo fazer na medida do possível....

Em resumo, ao se excluir deliberadamente do escopo de análise -- no que tange o comportamento humano -- dados sócio-históricos e as realizações da ciências cognitivas, da psicologia, da biologia, da sociologia, etc., --- denegrindo-as ao denomina-las de "irracionalismos", "polilogismos" (denominação provavelmente criada pela imaginação fértil  de Mises, por sinal, visto que não consta em dicionários e nem é usado por mais ninguém, em lugar nenhum – além de filósofos do objetivismo e da EAE, claro....), etc -- e delimitar toda e qualquer inferência a partir destas restrições impostas,... de fato e sui generis, resta muito pouco para se clamar por ciência, e é virtualmente impossível analisar qualquer coisa eticamente e sem a isenção necessária e requerida pelo método da ciência [apesar de todos os apesares alertados acima.....].

11 comentários:

  1. Caro Barlavaento,

    Seu texto novamente contém equívocos crassos que só posso justicar pela temeridade em falar de autores e temas com os quais, penso, o sr. não tem grande familiaridade. Alguns exemplos:

    1) o senhor afirma: "a ciência somente é válida quando amplamente aceita e verificável", mas tal proposição não se baseia em nenhuma teoria epistemológica corrente. Parece uma mistura de Habermas (aceitabilidade) e Circulo de Viena (verificacionismo). Ora, o primeiro não é levado a sério por ninguém; o segundo foi refutado por Popper.

    2) o sr. afirma ainda: "Mises argumentou que o axioma da ação humana era uma proposição sintética a priori". Ora, Mises jamais afirmou tal coisa. Escrevi um texto sobre o tema a algum tempo, o sr. pode consultar se quiser: "http://neolumenveritatis.blogspot.com/2011/08/questao-do-apriorismo-em-l-v-mises-e-i.html"

    3) Outra: "O pasto da fazenda é verde, e o gado come o pasto!" Meu querido, isso não é um axioma e muito menos uma tautologia. O que pode ser demonstrado facilmente pela formalização lógico-matemática que conduzirá a uma sequência não-trivial de valores-verdades. Tenho certeza de que alguém que cita von Neumann é capaz de enteder isso.

    4) Fico aguardando a demonstração da falsidade das teses austríacas.

    5) Finalmente, que raios o Papa veio fazer no meio de uma argumentação epistemológica? Tá certo que estamos na net, mas um pouco de seriedade não faz mal a ninguem.

    Continuarei em breve publicando alguns esclarecimentos sobre suas objeções iniciais a Mises. Exceto é claro sobre a acusação de racismo que não merece consideração.

    abraço

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  2. Caro Sr. Getúlio,

    <>
    Que pena, vou estudar mais!

    <<1) o senhor afirma: "a ciência somente (...)>>
    Não sei se leu detidamente o presente texto, mas note que eu disse: “Em princípio pode-se dizer que a ciência somente é válida quando amplamente aceita e verificável. Porém, (...) ” Sobre Habermas e Popper, mais uma vez, sua abordagem diverge da minha, visto que no meu ponto de vista o primeiro refutou o segundo.... Resumidamente: a Escola de Frankfurt considera que o racionalismo crítico foi auto-encurralado, e impossibilitado de fazer perguntas científicas. Olhando para a história, a existência social determina a mentalidade dos cientistas, e assim as hipóteses geradas (que precisariam ser falsificadas) estão limitadas pelo pensar desta sociedade. No entanto, o racionalismo crítico fornece métodos que supostamente devem ter uma influência na sociedade, e é isso precisamente que torna as idéias defendidas por Popper ineficazes para mudanças visíveis.

    <<2) o sr. afirma ainda: "Mises argumentou (...)>>
    Detalhes semânticos -- visto que a idéia fundamental se mantém, tal como proposta por Mises: proposição sintética: “O tema da praxeologia é a ação como tal” a priori: “A praxeologia a partir deste conceito apriorístico da categoria ação analisa as implicações plenas de todas as ações. (...) Sua afirmação e sua proposição não decorrem da experiência: antecedem qualquer compreensão dos fatos históricos.”

    <<3) Outra: "O pasto da fazenda é verde, e o gado come o pasto!" (...)>>
    Axioma: “Na lógica tradicional, um axioma ou postulado é uma sentença ou proposição que não é provada ou demonstrada e é considerada como óbvia ou como um consenso inicial necessário para a construção ou aceitação de uma teoria. Por essa razão, é aceito como verdade e serve como ponto inicial para dedução e inferências de outras verdades (dependentes de teoria).” ---- obviamente fiz uma hipótese propositalmente absurda, somente para demonstrar que inferências também absurdas podem ser tiradas de algo como: “O tema da praxeologia é a ação como tal” o qual “(...) analisa as implicações plenas de todas as ações”...

    <<4) Fico aguardando a demonstração da falsidade das teses austríacas. >>
    Ousarei, e serei grato se me retornar com suas perspicazes colocações.

    <<5) Finalmente, que raios o Papa (...)>>
    De novo, não sei se leu detidamente o presente texto... o Papa ficou de fora desta vez....

    <>
    Fico muito grato!

    Abraços,

    [s]
    Barlavento

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  3. Caro Barlavento,

    Claro que li atentamente teu texto e é justamente por isso que me espanto:

    1) a idéia de que que Habermas refutou a posição epistemológica de Popper é, para dizer o mínimo, exótica;

    2) Não, não é questão meramente semântica, mas um problema bem sério. Uma proposição verdadeira a priori não é necessariamente um juízo sintético a priori. Pelo contrário, a maioria dos estudiosos (eu, entre eles) não admite a existencia de coisas como juizos sintéticos a priori. Logo, proposições praxeologicas seriam juizos analíticos, ou, proposições tautológicas.

    3) A própria definição que o sr. utiliza de axioma indica que a proposição de seu exemplo não é um axioma, já que ele não estrutura nenhuma teoria.

    4) sim, continuaremos conversando

    5) Mais uma vez: não só li detidamente teu texto, como conheço em detalhe o mencionado discurso do Papa que se refere ao relativismo moral. O relativismo a que se refere meu texto e que está em questão é o relativismo epistemológico, posição refutável por reductio ad absurdum.

    Grande abraço

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  4. Ok Getúlio,

    Mas insisto, releia o texto!!

    Fiz uma completa revisão do conteúdo. Acho que você se refere à versão anterior....

    Estou espantado com seu espanto, e na verdade, insito que basicamente o Sr. adota uma abordagem diferente da minha, a qual guardo muitas reservas. Novamente, veja que no texto não questiono a validade da proposição -- que pode ser a mais racional e lógica possível, e ser isenta de juízos apriori -- mas sim sua aplicação, ou as inferências que se pode tirar dela, na realidade...

    Admiro sua retórica e erudição, e quero crescer com isso! Porém à princípio posso dizer que elas podem fazer sentido em sua 'realidade', mas dentro da minha, ainda estou sem entender a validade deste tratado quando se confronta com o contexto sócio-histórico material das pessoas.

    Como eu disse: A "certeza apodítica" afirmada pela praxeologia realmente desaparece como fumaça de cigarro se houver dúvida sobre a verdade de suas declaradas premissas sintéticas e hipóteses ocultas. Portanto aceitar os declarados axiomas de Mises não implica necessariamente em aceitar seus "princípios", ou suas implicações à realidade, mesmo que sua lógica seja impecável!

    É isso que tentei mostrar a partir de um axioma cuja teoria inferida é "gado come geléia de menta!" ...

    Obrigado pelos comentários,

    [s]
    Barlavento

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  5. Meu caro Barlavento,

    Com esse ultimo comentário e relendo seu texto nessa última versão [me perdoe,realmente eu não me havia atentado das alterações], realmente fica bastante claro a razão de nossa discordância. Seu ponto de vista agora me é bem claro, mas certamente é uma questão chave e complexa. Espero que possamos continuar conversando a respeito.

    abraço

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  6. Certo Getúlio!

    Me desculpe pelo teor do texto anterior. E -- sim -- continuaremos conversando. Havemos de concordar que este tipo de discussão é [praticamente] ausente na mass-media de nossa mass-age!

    Abraços Cordeais,

    [s]
    Barlavento

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  7. Caro Barlavento.

    Li seu artigo acreditando que a crítica é sempre necessária para nossa constante evolução rumo à verdade. Um crítica à praxeologia de Mises poderia mostrar várias falhas lógicas e alternativas de entendimento nas ciências sociais, contudo, não consegui encontrar nenhum avanço em seus apontamentos. Inclusive, acredito que seu entendimento sobre a questão não foi pleno e suas críticas acabaram sendo contraditórias. Para esclarecer esses pontos, elaborei as observações que seguem abaixo seguindo conforme avança seu texto.
    Estou analisando o seu primeiro texto e assim que fechar minhas observações encaminho. Agradeço de antemão pelo espaço.

    Se o conhecimento é constantemente modificado, o que me leva a crer que o pressuposto de que “Em princípio pode-se dizer que a ciência somente é válida quando amplamente aceita e verificável”? Como posso aceitar essa sua afirmação como válida se ela não pode ser verificada? E se é mutável, como tenho certeza de que é verdadeira? Ou só será verdadeira se aceita? Esse tipo de postura descamba pra um relativismo que contraria a própria definição de ciência válida. Sendo assim, sua definição de ciência é meramente um axioma arbitrário escolhido por você, mesmo que amplamente aceito, mas impossível de ser verificado e impossível de chegar a alguma verdade, já que nem ele pode ser considerado verdadeiro de antemão. É como afirmar: não existe verdade na ciência. Ora! Essa afirmativa não pode ser científica; e se for científica, não poderia dizer que é ou não é verdadeira.

    “Portanto, isto tudo mostra como pode ser frágil a defesa incondicional de uma postura objetivista dogmática”. Portanto o que? O que tem a mídia a ver com isso? O que a mídia tem a ver com a fragilidade da defesa incondicional de uma postura? Até agora tudo o que você fez foi uma defesa incondicional de que a postura austríaca está errada. O que você escreveu não prova nada; puro juízo de valor, portanto inútil e simples dispositivo retórico, como você gosta de falar.
    Mas a postura de que a ciência somente é válida quando amplamente aceita e verificável também deve ser objetiva e dogmática. Essa postura de ciência não é uma verdade absoluta? Ou ela pode ser errada? Você também não pode assumir que essa postura “verificável e aceita” da ciência seja invariável com o passar do tempo sem se contradizer. Além disso, por que você a utiliza como crítica de uma outra posição confrontante se ela não pode ser absoluta (verdadeira), mas mero dispositivo retórico? Sua própria premissa cria um emaranhado de falácias e contradições; conclusões que sequer podemos descrever de tão absurdas que são.
    Nesse confronto de idéias sobre ciências humanas – praxeologia vs. verificacionismo aceitismo – uma deve estar certa e a outra errada, ou as duas erradas: não há meio termo. Sua posição incondicional é que a praxeologia está errada – essa é uma postura dogmática e objetiva – portanto contraditória com sua própria postura e defesa da definição de ciência.

    Afirmar que Mises pode ser refutado porque outros racionalistas já foram não refuta a praxeologia. Não sei nem por que você usou esse argumento.
    Se apriorismos não fornecem “um método consistente e confiável para a obtenção de teorias verdadeiras sobre o mundo real”, você não pode partir aprioristicamente do pressuposto de que “em princípio pode-se dizer que a ciência somente é válida quando amplamente aceita e verificável”. A menos que você afirme que a ciência não é um método apropriado para teorias verdadeiras. Se não é, por que eu deveria utilizar a ciência então?
    E até agora você ainda não atacou logicamente o axioma da ação humana.

    continua...

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  8. De forma alguma. A praxeologia utiliza a dedução em busca de premissas sintéticas verdadeiras a priori. O axioma afirma simplesmente que o homem age propositalmente. Queria ver você negar esse axioma sem agir propositalmente – ai sim seu texto teria mais valor. E na verdade era isso que eu esperava que você atacasse, mas até agora necas.
    Tampouco é possível afirmar que esse axioma não é verdadeiro. Também não preciso investigar a história, a cultura, a psicologia ou qualquer outra coisa empiricamente para afirmar que o homem age com propósito. Não é nem possível observar uma ação proposital, o que é possível é visualizar movimentos corporais e interpretá-los como ações humanas propositais. Por isso ele é um pressuposto racional, pois o propósito está na mente do ser agente.

    Ao contrário de apenas afirmar que “não existe mais nada de importante que se possa deduzir a partir disso” (do axioma da ação humana), demonstre que não existe e que pode ser utilizado por qualquer escola. Não basta apelar para a autoridade, você mesmo afirma que isso é inútil.

    E por que as suposições não podem ser declaradas válidas? Demonstre logicamente que "quando uma cadeia lógica cresce além dos limites estabelecidos por suas suposições declaradas, tais suposições já não podem mais ser declaradas válidas". Não basta apelar para a autoridade de Schüller, demonstre que algum teorema baseado no axioma da ação humana não pode ser declarado válido e mesmo que ele “cresce além dos limites estabelecidos”. Pegue ai o exemplo da preferência temporal, ou da expectativa de satisfação, ou da utilidade marginal decrescente ou da lei da associação e refute.

    Novamente. Apelar para a autoridade de Hayek não refuta o axioma. Só porque ele não acreditava não quer dizer que está errado. Além do mais, Hayek tentou alguma vez refutar o axioma?

    Ora! Se a praxeologia é um axioma sintético a priori, deduzido, com a intenção de fornecer informações verdadeiras e universais sem a necessidade de observação empírica, a posteriori (algo que você vem criticando em seu texto), teu exemplo não cabe como comparação. O exemplo do pasto necessita de observação empírica, a posteriori. Ele é, dentro da classificação de Kant, uma tentativa de formulação de um julgamento sintético a posteriori. Podemos aceitá-lo como axioma como você afirma, sem problemas, mas apenas como juízo sintético a posteriori. E como sintético a posteriori, ele apenas informa verdades triviais. É como eu pegar uma folha, te mostrar e falar: esta folha é verde.
    Agora, se fizéssemos o esforço de colocar seu axioma como um juízo sintético a priori, perceberíamos que ele não satisfaz as características para tal. Ele é totalmente falho. Posso nega-lo se observar outro pasto (ou o mesmo mais tarde) e disser que ele não é verde e que o gado bebe água. Pronto! Neguei teu axioma. Ele não é universal, imutável e autoevidente como pressupõe um juízo sintético a priori.
    Deste modo, sua comparação não tem nenhum sentido. Basta perguntar: todo o pasto é verde? A definição de pasto traz consigo a idéia de verde, como a ação humana traz consigo a idéia de propósito e satisfação? Portanto, não é nem um pouquinho semelhante ao axioma da ação humana. Acredito que você não entendeu o conceito de Mises essencialmente.

    continua...

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  9. Novamente você falha em sua crítica. Você somente pode inferir que o gado come o pasto porque é verde observando e analisando o gado e o pasto a posteriori – após o gado comer o pasto e ele ser realmente verde. O gado poderia comer o pasto porque está com fome, ou porque é de hábito ou porque sonha com borboletas verdes. O pasto poderia ser verde, amarelo e até roxo. Você também poderia, via experimentação, dizer que o gado X gosta mais do pasto amarelo que do verde. Seu axioma não tem nenhuma validade apriorística autoevidente, apenas a posteriori, portanto não cabe como comparação mesmo dentro do conceito errado que você descreve do que seria a praxeologia. Tua comparação não tem nem pé nem cabeça. Além disso, que hilário!, todas as conclusões absurdas que podemos tomar só são possíveis porque teu axioma não é sintético a priori. Quero ver você tirar alguma conclusão absurda do axioma da ação humana – o homem age com propósito – sem se contradizer.

    Então esperemos esse esforço adicional, pois ele que é necessário, não suas inferências arbitrárias e apelos à autoridade. Até agora nada de refutação, mas nem sombra dela. Você afirma que a teoria do valor subjetivo é absurda, então prove! Nada de apelo à autoridade.

    E chegamos ao final sem nenhuma refutação. Que pena! Tudo o que pude verificar foram contradições, apelos à autoridade, arbitrariedades e um pesado toque de desconhecimento do assunto a ser criticado. Mas uma coisa eu concordo. Se assumirmos o absurdo de definição contraditória de ciência que você adota, pelo menos pras ciências sociais que lidam com ações humanas, a praxeologia realmente não pode ser considerada uma ciência. Mas isso não refuta a praxeologia, no máximo afirma que ela não é ciência. Só que como você define arbitrariamente a ciência (apesar de acreditar que a aceitação é suficiente), eu poderia defini-la arbitrariamente como redondinha, gordinha e vermelhinha. Pronto! Na minha definição arbitrária a tua definição não esta correta. É isso que você faz.
    Aguardemos o esforço adicional...

    cordialmente,

    David

    ps. desculpe-me alguma falta de polidez e o tamanho dos comentários.

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  10. Tenho acompanhado o debate.e ,na minha pobre opinião, o Sr, Barlavento ganhou o meting.Sr, Getúlio não volta masi

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  11. Sr,. Barlavento, o demolidor, já leu no site http://cesarmangolin.files.wordpress.com/2010/02/hobsbawm-a-era-dos-extremos.pdf, a Era dos Extremos, segundo consta por lá de ERIC HOBSBAWM?Dezenas mais dezena s de páginas do livro, mas fiquei aqui em dúvida: se do ERIC HOBSBAWM mesmo, imensidão de chatice.Mas parece-me ser algo falso, do tipo destinado à engenharoa de consenso da qual fala Noam Chomsky Que acha?
    Um abraço Pedro

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